terça-feira, 16 de novembro de 2010

James Lovelock, renomado cientista, diz que o aquecimento global é irreversível, e que mais de 6 bilhões de pessoas vão morrer neste século




James Lovelock, sempre provocador, acredita que a raça humana está em perigo real e imediato. “Será uma época sombria, mas emocionante”.
Aos 88 anos, depois de quatro filhos e uma carreira longa e respeitada como um dos cientistas mais influentes do século 20, James Lovelock chegou a uma conclusão desconcertante: a raça humana está condenada. “Gostaria de ser mais esperançoso”, ele me diz em uma manhã ensolarada enquanto caminhamos em um parque em Oslo (Noruega), onde o estudioso fará uma palestra em uma universidade. Lovelock é baixinho, invariavelmente educado, com cabelo branco e óculos redondos que lhe dão ares de coruja. Seus passos são gingados; sua mente, vívida; seus modos, tudo menos pessimistas. Aliás, a chegada dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse – guerra, fome, pestilência e morte – parece deixá-lo animado. “Será uma época sombria”, reconhece. “Mas, para quem sobreviver, desconfio que vá ser bem emocionante.”
Na visão de Lovelock, até 2020, secas e outros extremos climáticos serão lugar-comum. Até 2040, o Saara vai invadir a Europa, e Berlim será tão quente quanto Bagdá. Atlanta acabará se transformando em uma selva de trepadeiras kudzu. Phoenix se tornará um lugar inabitável, assim como partes de Beijing (deserto), Miami (elevação do nível do mar) e Londres (enchentes). A falta de alimentos fará com que milhões de pessoas se dirijam para o norte, elevando as tensões políticas. “Os chineses não terão para onde ir além da Sibéria”, sentencia Lovelock. “O que os russos vão achar disso? Sinto que uma guerra entre a Rússia e a China seja inevitável.” Com as dificuldades de sobrevivência e as migrações em massa, virão as epidemias. Até 2100, a população da Terra encolherá dos atuais 6,6 bilhões de habitantes para cerca de 500 milhões, sendo que a maior parte dos sobreviventes habitará altas latitudes – Canadá, Islândia, Escandinávia, Bacia Ártica.
Até o final do século, segundo o cientista, o aquecimento global fará com que zonas de temperatura como a América do Norte e a Europa se aqueçam quase 8 graus Celsius – quase o dobro das previsões mais prováveis do relatório mais recente do Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática, a organização sancionada pela ONU que inclui os principais cientistas do mundo. “Nosso futuro”, Lovelock escreveu, “é como o dos passageiros em um barquinho de passeio navegando tranqüilamente sobre as cataratas do Niagara, sem saber que os motores em breve sofrerão pane”. E trocar as lâmpadas de casa por aquelas que economizam energia não vai nos salvar. Para Lovelock, diminuir a poluição dos gases responsáveis pelo efeito estufa não vai fazer muita diferença a esta altura, e boa parte do que é considerado desenvolvimento sustentável não passa de um truque para tirar proveito do desastre. “Verde”, ele me diz, só meio de piada, “é a cor do mofo e da corrupção.”
Se tais previsões saíssem da boca de qualquer outra pessoa, daria para rir delas como se fossem devaneios. Mas não é tão fácil assim descartar as idéias de Lovelock. Na posição de inventor, ele criou um aparelho que ajudou a detectar o buraco crescente na camada de ozônio e que deu início ao movimento ambientalista da década de 1970. E, na posição de cientista, apresentou a teoria revolucionária conhecida como Gaia – a idéia de que nosso planeta é um superorganismo que, de certa maneira, está “vivo”. Essa visão hoje serve como base a praticamente toda a ciência climática. Lynn Margulis, bióloga pioneira na Universidade de Massachusetts (Estados Unidos), diz que ele é “uma das mentes científicas mais inovadoras e rebeldes da atualidade”. Richard Branson, empresário britânico, afirma que Lovelock o inspirou a gastar bilhões de dólares para lutar contra o aquecimento global. “Jim é um cientista brilhante que já esteve certo a respeito de muitas coisas no passado”, diz Branson. E completa: “Se ele se sente pessimista a respeito do futuro, é importante para a humanidade prestar atenção.”
Lovelock sabe que prever o fim da civilização não é uma ciência exata. “Posso estar errado a respeito de tudo isso”, ele admite. “O problema é que todos os cientistas bem intencionados que argumentam que não estamos sujeitos a nenhum perigo iminente baseiam suas previsões em modelos de computador. Eu me baseio no que realmente está acontecendo.”
Quando você se aproxima da casa de Lovelock em Devon, uma área rural no sudoeste da Inglaterra, a placa no portão de metal diz, claramente: “Estação Experimental de Coombe Mill. Local de um novo hábitat. Por favor, não entre nem incomode”.
Depois de percorrer algumas centenas de metros em uma alameda estreita, ao lado de um moinho antigo, fica uma casinha branca com telhado de ardósia onde Lovelock mora com a segunda mulher, Sandy, uma norte-americana, e seu filho mais novo, John, de 51 anos e que tem incapacidade leve. É um cenário digno de conto de fadas, cercado de 14 hectares de bosques, sem hortas nem jardins com planejamento paisagístico. Parcialmente escondida no bosque fica uma estátua em tamanho natural de Gaia, a deusa grega da Terra, em homenagem à qual James Lovelock batizou sua teoria inovadora.
A maior parte dos cientistas trabalha às margens do conhecimento humano, adicionando, aos poucos, nova informações para a nossa compreensão do mundo. Lovelock é um dos poucos cujas idéias fomentaram, além da revolução científica, também a espiritual. “Os futuros historiadores da ciência considerarão Lovelock como o homem que inspirou uma mudança digna de Copérnico na maneira como nos enxergamos no mundo”, prevê Tim Lenton, pesquisador de clima na Universidade de East Anglia, na Inglaterra. Antes de Lovelock aparecer, a Terra era considerada pouco mais do que um pedaço de pedra aconchegante que dava voltas em torno do Sol. De acordo com a sabedoria em voga, a vida evoluiu aqui porque as condições eram adequadas: não muito quente nem muito frio, muita água. De algum modo, as bactérias se transformaram em organismos multicelulares, os peixes saíram do mar e, pouco tempo depois, surgiu Britney Spears.
Na década de 1970, Lovelock virou essa idéia de cabeça para baixo com uma simples pergunta: Por que a Terra é diferente de Marte e de Vênus, onde a atmosfera é tóxica para a vida? Em um arroubo de inspiração, ele compreendeu que nossa atmosfera não foi criada por eventos geológicos aleatórios, mas sim devido à efusão de tudo que já respirou, cresceu e apodreceu. Nosso ar “não é meramente um produto biológico”, James Lovelock escreveu. “É mais provável que seja uma construção biológica: uma extensão de um sistema vivo feito para manter um ambiente específico.” De acordo com a teoria de Gaia, a vida é participante ativa que ajuda a criar exatamente as condições que a sustentam. É uma bela idéia: a vida que sustenta a vida. Também estava bem em sintonia com o tom pós-hippie dos anos 70. Lovelock foi rapidamente adotado como guru espiritual, o homem que matou Deus e colocou o planeta no centro da experiência religiosa da Nova Era. O maior erro de sua carreira, aliás, não foi afirmar que o céu estava caindo, mas deixar de perceber que estava. Em 1973, depois de ser o primeiro a descobrir que os clorofluocarbonetos (CFCs), um produto químico industrial, tinham poluído a atmosfera, Lovelock declarou que a acumulação de CFCs “não apresentava perigo concebível”. De fato, os CFCs não eram tóxicos para a respiração, mas estavam abrindo um buraco na camada de ozônio. Lovelock rapidamente revisou sua opinião, chamando aquilo de “uma das minhas maiores bolas fora”, mas o erro pode ter lhe custado um prêmio Nobel.
No início, ele também não considerou o aquecimento global como uma ameaça urgente ao planeta. “Gaia é uma vagabunda durona”, ele explica com freqüência, tomando emprestada uma frase cunhada por um colega. Mas, há alguns anos, preocupado com o derretimento acelerado do gelo no Ártico e com outras mudanças relacionadas ao clima, ele se convenceu de que o sistema de piloto automático de Gaia está seriamente desregulado, tirado dos trilhos pela poluição e pelo desmatamento. Lovelock acredita que o planeta vai recuperar seu equilíbrio sozinho, mesmo que demore milhões de anos. Mas o que realmente está em risco é a civilização. “É bem possível considerar seriamente as mudanças climáticas como uma resposta do sistema que tem como objetivo se livrar de uma espécie irritante: nós, os seres humanos”, Lovelock me diz no pequeno escritório que montou em sua casa. “Ou pelo menos fazer com que diminua de tamanho.”
Se você digitar “gaia” e “religion” no Google, vai obter 2,36 milhões de páginas – praticantes de wicca, viajantes espirituais, massagistas e curandeiros sexuais, todos inspirados pela visão de Lovelock a respeito do planeta. Mas se você perguntar a ele sobre cultos pagãos, ele responde com uma careta: não tem interesse na espiritualidade desmiolada nem na religião organizada, principalmente quando coloca a existência humana acima de tudo o mais. Em Oxford, certa vez ele se levantou e repreendeu Madre Teresa por pedir à platéia que cuidasse dos pobres e “deixasse que Deus tomasse conta da Terra”. Como Lovelock explicou a ela, “se nós, as pessoas, não respeitarmos a Terra e não tomarmos conta dela, podemos ter certeza de que ela, no papel de Gaia, vai tomar conta de nós e, se necessário for, vai nos eliminar”.
Gaia oferece uma visão cheia de esperança a respeito de como o mundo funciona. Afinal de contas, se a Terra é mais do que uma simples pedra que gira ao redor do sol, se é um superorganismo que pode evoluir, isso significa que existe certa quantidade de perdão embutida em nosso mundo – e essa é uma conclusão que vai irritar profundamente estudiosos de biologia e neodarwinistas de absolutamente todas as origens.
Para Lovelock, essa é uma ideia reconfortante. Considere a pequena propriedade que ele tem em Devon. Quando ele comprou o terreno, há 30 anos, era rodeada por campos aparados por mil anos de ovelhas pastando. E ele se empenhou em devolver a seus 14 hectares um caráter mais próximo do natural. Depois de consultar um engenheiro florestal, plantou 20 mil árvores – amieiros, carvalhos, pinheiros. Infelizmente, plantou muitas delas próximas demais, e em fileiras. Agora, as árvores estão com cerca de 12 metros de altura, mas em vez de ter ar “natural”, partes do terreno dele parecem simplesmente um projeto de reflorestamento mal executado. “Meti os pés pelas mãos”, Lovelock diz com um sorriso enquanto caminhamos no bosque. “Mas, com o passar dos anos, Gaia vai dar um jeito.”
Até pouco tempo atrás, Lovelock achava que o aquecimento global seria como sua floresta meia-boca – algo que o planeta seria capaz de corrigir. Então, em 2004, Richard Betts, amigo de Lovelock e pesquisador no Centro Hadley para as Mudanças Climáticas – o principal instituto climático da Inglaterra -, convidou-o para dar uma passada lá e bater um papo com os cientistas. Lovelock fez reunião atrás de reunião, ouvindo os dados mais recentes a respeito do gelo derretido nos pólos, das florestas tropicais cada vez menores, do ciclo de carbono nos oceanos. “Foi apavorante”, conta.
“Mostraram para nós cinco cenas separadas de respostas positivas em climas regionais – polar, glacial, floresta boreal, floresta tropical e oceanos -, mas parecia que ninguém estava trabalhando nas consequências relativas ao planeta como um todo.” Segundo ele, o tom usado pelos cientistas para falar das mudanças que testemunharam foi igualmente de arrepiar: “Parecia que estavam discutindo algum planeta distante ou um universo-modelo, em vez do lugar em que todos nós, a humanidade, vivemos”.
Quando Lovelock estava voltando para casa em seu carro naquela noite, a compreensão lhe veio. A capacidade de adaptação do sistema se perdera. O perdão fora exaurido. “O sistema todo”, concluiu, “está em modo de falha.” Algumas semanas depois, ele começou a trabalhar em seu livro mais pessimista, A Vingança de Gaia, publicado no Brasil em 2006. Na sua visão, as falhas nos modelos climáticos computadorizados são dolorosamente aparentes. Tome como exemplo a incerteza relativa à projeção do nível do mar: o IPCC, o painel da ONU sobre mudanças climáticas, estima que o aquecimento global vá fazer com que a temperatura média da Terra aumente até 6,4 graus Celsius até 2100. Isso fará com que geleiras em terra firme derretam e que o mar se expanda, dando lugar à elevação máxima do nível de mar de apenas pouco menos de 60 centímetros. A Groenlândia, de acordo com os modelos do IPCC, demorará mil anos para derreter.
Mas evidências do mundo real sugerem que as estimativas do IPCC são conservadoras demais. Para começo de conversa, os cientistas sabem, devido aos registros geológicos, que há 3 milhões de anos, quando as temperaturas subiram cinco graus acima dos níveis atuais, os mares subiram não 60 centímetros, mas 24 metros. Além do mais, medidas feitas por satélite recentemente indicam que o Ártico está derretendo com tanta rapidez que a região pode ficar totalmente sem gelo até 2030. “Quem elabora os modelos não tem a menor noção sobre derretimento de placas de gelo”, desdenha o estudioso, sem sorrir.
Mas não é apenas o gelo que invalida os modelos climáticos. Sabe-se que é difícil prever corretamente a física das nuvens, e fatores da biosfera, como o desmatamento e o derretimento da Tundra, raramente são levados em conta. “Os modelos de computador não são bolas de cristal”, argumenta Ken Caldeira, que elabora modelos climáticos na Universidade de Stanford, cuja carreira foi profundamente influenciada pelas idéias de Lovelock. “Ao observar o passado, fazemos estimativas bem informadas em relação ao futuro. Os modelos de computador são apenas uma maneira de codificar esse conhecimento acumulado em apostas automatizadas e bem informadas.”
Aqui, em sua essência supersimplificada, está o cenário pessimista de Lovelock: o aumento da temperatura significa que mais gelo derreterá nos pólos, e isso significa mais água e terra. Isso, por sua vez, faz aumentar o calor (o gelo reflete o sol, a terra e a água o absorvem), fazendo com que mais gelo derreta. O nível do mar sobe. Mais calor faz com que a intensidade das chuvas aumente em alguns lugares e com que as secas se intensifiquem em outros. As florestas tropicais amazônicas e as grandes florestas boreais do norte – o cinturão de pinheiros e píceas que cobre o Alasca, o Canadá e a Sibéria – passarão por um estirão de crescimento, depois murcharão até desaparecer. O solo permanentemente congelado das latitudes do norte derrete, liberando metano, um gás que contribui para o efeito estufa e que é 20 vezes mais potente do que o CO2… e assim por diante. Em um mundo de Gaia funcional, essas respostas positivas seriam moduladas por respostas negativas, sendo que a maior de todas é a capacidade da Terra de irradiar calor para o espaço. Mas, a certa altura, o sistema de regulagem pára de funcionar e o clima dá um salto – como já aconteceu muitas vezes no passado – para uma nova situação, mais quente. Não é o fim do mundo, mas certamente é o fim do mundo como o conhecemos.
O cenário pessimista de Lovelock é desprezado por pesquisadores de clima de renome, sendo que a maior parte deles rejeita a idéia de que haja um único ponto de desequilíbrio para o planeta inteiro. “Ecossistemas individuais podem falhar ou as placas de gelo podem entrar em colapso”, esclarece Caldeira, “mas o sistema mais amplo parece ser surpreendentemente adaptável.” No entanto, vamos partir do princípio, por enquanto, de que Lovelock esteja certo e que de fato estejamos navegando por cima das cataratas do Niagara. Simplesmente vamos acenar antes de cair? Na visão de Lovelock, reduções modestas de emissões de gases que contribuem para o efeito estufa não vão nos ajudar – já é tarde demais para deter o aquecimento global trocando jipões a diesel por carrinhos híbridos. E a idéia de capturar a poluição de dióxido de carbono criada pelas usinas a carvão e bombear para o subsolo? “Não há como enterrar quantidade suficiente para fazer diferença.” Biocombustíveis? “Uma idéia monumentalmente idiota.” Renováveis? “Bacana, mas não vão nem fazer cócegas.” Para Lovelock, a idéia toda do desenvolvimento sustentável é equivocada: “Deveríamos estar pensando em retirada sustentável”.
A retirada, na visão dele, significa que está na hora de começar a discutir a mudança do lugar onde vivemos e de onde tiramos nossos alimentos; a fazer planos para a migração de milhões de pessoas de regiões de baixa altitude, como Bangladesh, para a Europa; a admitir que Nova Orleans já era e mudar as pessoas para cidades mais bem posicionadas para o futuro. E o mais importante de tudo é que absolutamente todo mundo “deve fazer o máximo que pode para sustentar a civilização, de modo que ela não degenere para a Idade das Trevas, com senhores guerreiros mandando em tudo, o que é um perigo real. Assim, podemos vir a perder tudo”.
Até os amigos de Lovelock se retraem quando ele fala assim. “Acho que ele está deixando nossa cota de desespero no negativo”, diz Chris Rapley, chefe do Museu de Ciência de Londres, que se empenhou com afinco para despertar a consciência mundial sobre o aquecimento global. Outros têm a preocupação justificada de que as opiniões de Lovelock sirvam para dispersar o momento de concentração de vontade política para impor restrições pesadas às emissões de gases poluentes que contribuem para o efeito estufa. Broecker, o paleoclimatologista de Columbia, classifica a crença de Lovelock de que reduzir a poluição é inútil como “uma bobagem perigosa”.
“Eu gostaria de poder dizer que turbinas de vento e painéis solares vão nos salvar”, Lovelock responde. “Mas não posso. Não existe nenhum tipo de solução possível. Hoje, há quase 7 bilhões de pessoas no planeta, isso sem falar nos animais. Se pegarmos apenas o CO2 de tudo que respira, já é 25% do total – quatro vezes mais CO2 do que todas as companhias aéreas do mundo. Então, se você quer diminuir suas emissões, é só parar de respirar. É apavorante. Simplesmente ultrapassamos todos os limites razoáveis em números. E, do ponto de vista puramente biológico, qualquer espécie que faz isso tem que entrar em colapso.”
Mas isso não é sugerir, no entanto, que Lovelock acredita que deveríamos ficar tocando harpa enquanto assistimos o mundo queimar. É bem o contrário. “Precisamos tomar ações ousadas”, ele insiste. “Temos uma quantidade enorme de coisas a fazer.” De acordo com a visão dele, temos duas escolhas: podemos retornar a um estilo de vida mais primitivo e viver em equilíbrio com o planeta como caçadores-coletores ou podemos nos isolar em uma civilização muito sofisticada, de altíssima tecnologia. “Não há dúvida sobre que caminho eu preferiria”, diz certa manhã, em sua casa, com um sorriso aberto no rosto enquanto digita em seu computador. “Realmente, é uma questão de como organizamos a sociedade – onde vamos conseguir nossa comida, nossa água. Como vamos gerar energia.”
Em relação à água, a resposta é bem direta: usinas de dessalinização, que são capazes de transformar água do mar em água potável. O suprimento de alimentos é mais difícil: o calor e a seca vão acabar com a maior parte das regiões de plantações de alimentos hoje existentes. Também vão empurrar as pessoas para o norte, onde vão se aglomerar em cidades. Nessas áreas, não haverá lugar para quintais ajardinados. Como resultado, Lovelock acredita, precisaremos sintetizar comida – teremos que criar alimentos em barris com culturas de tecidos de carnes e vegetais. Isso parece muito exagerado e profundamente desagradável, mas, do ponto de vista tecnológico, não será difícil de realizar.
O fornecimento contínuo de eletricidade também será vital, segundo ele. Cinco dias depois de visitar o centro Hadley, Lovelock escreveu um artigo opinativo polêmico, intitulado: “Energia nuclear é a única solução verde”. Lovelock argumentava que “devemos usar o pequeno resultado dos renováveis com sensatez”, mas que “não temos tempo para fazer experimentos com essas fontes de energia visionárias; a civilização está em perigo iminente e precisa usar a energia nuclear – a fonte de energia mais segura disponível – agora ou sofrer a dor que em breve será infligida a nosso planeta tão ressentido”.
Ambientalistas urraram em protesto, mas qualquer pessoa que conhecia o passado de Lovelock não se surpreendeu com sua defesa à energia nuclear. Aos 14 anos, ao ler que a energia do sol vem de uma reação nuclear, ele passou a acreditar que a energia nuclear é uma das forças fundamentais no universo. Por que não aproveitá-la? No que diz respeito aos perigos – lixo radioativo, vulnerabilidade ao terrorismo, desastres como o de Chernobyl – Lovelock diz que este é dos males o menos pior: “Mesmo que eles tenham razão a respeito dos perigos, e não têm, continua não sendo nada na comparação com as mudanças climáticas”.
Como último recurso, para manter o planeta pelo menos marginalmente habitável, Lovelock acredita que os seres humanos podem ser forçados a manipular o clima terrestre com a construção de protetores solares no espaço ou instalando equipamentos para enviar enormes quantidades de CO2 para fora da atmosfera. Mas ele considera a geoengenharia em larga escala como um ato de arrogância – “Imagino que seria mais fácil um bode se transformar em um bom jardineiro do que os seres humanos passarem a ser guardiões da Terra”. Na verdade, foi Lovelock que inspirou seu amigo Richard Branson a oferecer um prêmio de US$ 25 milhões para o “Virgin Earth Challenge” (Desafio Virgin da Terra), que será concedido à primeira pessoa que conseguir criar um método comercialmente viável de remover os gases responsáveis pelo efeito estufa da atmosfera. Lovelock é juiz do concurso, por isso não pode participar dele, mas ficou intrigado com o desafio. Sua mais recente idéia: suspender centenas de milhares de canos verticais de 18 metros de comprimento nos oceanos tropicais, colocar uma válvula na base de cada cano e permitir que a água das profundezas, rica em nutrientes, seja bombeada para a superfície pela ação das ondas. Os nutrientes das águas das profundezas aumentariam a proliferação das algas, que consumiriam o dióxido de carbono e ajudariam a resfriar o planeta. “É uma maneira de contrabalançar o sistema de energia natural da Terra usando ele próprio”, Lovelock especula. “Acho que Gaia aprovaria.”
Oslo é o tipo perfeito de cidade para Lovelock. Fica em latitudes do norte, que ficarão mais temperadas na medida em que o clima for esquentando; tem água aos montes; graças a suas reservas de petróleo e gás, é rica; e lá já há muito pensamento criativo relativo à energia, incluindo, para a satisfação de Lovelock, discussões renovadas a respeito da energia nuclear. “A questão principal a ser discutida aqui é como manejar as hordas de pessoas que chegarão à cidade”, Lovelock avisa. “Nas próximas décadas, metade da população do sul da Europa vai tentar se mudar para cá.”
Nós nos dirigimos para perto da água, passando pelo castelo de Akershus, uma fortaleza imponente do século 13 que funcionou como quartel-general nazista durante a ocupação da cidade na Segunda Guerra Mundial. Para Lovelock, os paralelos entre o que o mundo enfrentou naquela época e o que enfrenta hoje são bem claros. “Em certos aspectos, é como se estivéssemos de novo em 1939″, ele afirma. “A ameaça é óbvia, mas não conseguimos nos dar conta do que está em jogo. Ainda estamos falando de conciliação.”
Naquele tempo, como hoje, o que mais choca Lovelock é a ausência de liderança política. Apesar de respeitar as iniciativas de Al Gore para conscientizar as pessoas, não acredita que nenhum político tenha chegado perto de nos preparar para o que vem por aí. “Em muito pouco tempo, estaremos vivendo em um mundo desesperador, comenta Lovelock. Ele acredita que está mais do que na hora para uma versão “aquecimento global” do famoso discurso que Winston Churchill fez para preparar a Grã-Bretanha para a Segunda Guerra Mundial: “Não tenho nada a oferecer além de sangue, trabalho, lágrimas e suor”. “As pessoas estão prontas para isso”, Lovelock dispara quando passamos sob a sombra do castelo. “A população entende o que está acontecendo muito melhor do que a maior parte dos políticos.”
Independentemente do que o futuro trouxer, é provável que Lovelock não esteja por aí para ver. “O meu objetivo é viver uma vida retangular: longa, forte e firme, com uma queda rápida no final”, sentencia. Lovelock não apresenta sinais de estar se aproximando de seu ponto de queda. Apesar de já ter passado por 40 operações, incluindo ponte de safena, continua viajando de um lado para o outro no interior inglês em seu Honda branco, como um piloto de Fórmula 1. Ele e Sandy recentemente passaram um mês de férias na Austrália, onde visitaram a Grande Barreira de Corais. O cientista está prestes a começar a escrever mais um livro sobre Gaia. Richard Branson o convidou para o primeiro vôo do ônibus espacial Virgin Galactic, que acontecerá no fim do ano que vem – “Quero oferecer a ele a visão de Gaia do espaço”, diz Branson. Lovelock está ansioso para fazer o passeio, e planeja fazer um teste em uma centrífuga até o fim deste ano para ver se seu corpo suporta as forças gravitacionais de um vôo espacial. Ele evita falar de seu legado, mas brinca com os filhos dizendo que quer ver gravado na lápide de seu túmulo: “Ele nunca teve a intenção de ser conciliador”.
Em relação aos horrores que nos aguardam, Lovelock pode muito bem estar errado. Não por ter interpretado a ciência erroneamente (apesar de isso certamente ser possível), mas por ter interpretado os seres humanos erroneamente. Poucos cientistas sérios duvidam que estejamos prestes a viver uma catástrofe climática. Mas, apesar de toda a sensibilidade de Lovelock para a dinâmica sutil e para os ciclos de resposta no sistema climático, ele se mostra curiosamente alheio à dinâmica sutil e aos ciclos de resposta no sistema humano. Ele acredita que, apesar dos nossos iPhones e dos nossos ônibus espaciais, continuamos sendo animais tribais, amplamente incapazes de agir pelo bem maior ou de tomar decisões de longo prazo que garantam nosso bem-estar. “Nosso progresso moral”, diz Lovelock, “não acompanhou nosso progresso tecnológico.”
Mas talvez seja exatamente esse o motivo do apocalipse que está por vir. Uma das questões que fascina Lovelock é a seguinte: A vida vem evoluindo na Terra há mais de 3 bilhões de anos – e por que motivo? “Gostemos ou não, somos o cérebro e o sistema nervoso de Gaia”, ele explica. “Agora, assumimos responsabilidade pelo bem-estar do planeta. Como vamos lidar com isso?”
Enquanto abrimos caminho no meio dos turistas que se dirigem para o castelo, é fácil olhar para eles e ficar triste. Mais difícil é olhar para eles e ter esperança. Mas quando digo isso a Lovelock, ele argumenta que a raça humana passou por muitos gargalos antes – e que talvez sejamos melhores por causa disso. Então ele me conta a história de um acidente de avião, anos atrás, no aeroporto de Manchester. “Um tanque de combustível pegou fogo durante a decolagem”, recorda. “Havia tempo de sobra para todo mundo sair, mas alguns passageiros simplesmente ficaram paralisados, sentados nas poltronas, como tinham lhes dito para fazer, e as pessoas que escaparam tiveram que passar por cima deles para sair. Era perfeitamente óbvio o que era necessário fazer para sair, mas eles não se mexiam. Morreram carbonizados ou asfixiados pela fumaça. E muita gente, fico triste em dizer, é assim. E é isso que vai acontecer desta vez, só que em escala muito maior.”
Lovelock olha para mim com olhos azuis muito firmes. “Algumas pessoas vão ficar sentadas na poltrona sem fazer nada, paralisadas de pânico. Outras vão se mexer. Vão ver o que está prestes a acontecer, e vão tomar uma atitude, e vão sobreviver. São elas que vão levar a civilização em frente.”

Por Jeff Goodell

Tradução Ana Ban

fonte: http://www.orbum.org/
fonte: rollingstone

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Manifesto dos Economistas Estarrecidos





Ganha fôlego uma importante articulação protagonizada por economistas, professores e pesquisadores de vários países da Europa, por meio de um documento que ficou conhecido como “Manifesto dos Economistas Estarrecidos”.

Paulo Kliass

Passados mais de 2 anos do momento simbólico de deflagração da crise econômica atual, a realidade dos países e economias afetadas ao redor do mundo é bastante discrepante. Em meados de setembro de 2008, a situação das instituições financeiras norte-americanas revelava-se insustentável. A partir da quebra do banco Lehman Brothers, verifica-se uma espécie de efeito-dominó sobre um conjunto de instituições bancárias e de crédito naquele país. É a chamada crise do “sub-prime”, fortemente afetada pelo mercado hipotecário do setor imobiliário e da construção civil.

Os bancos estavam completamente sem lastro em suas operações de empréstimo, os preços dos imóveis viviam um fenômeno de alta de preços irreal e insustentável no longo prazo. – a chamada bolha artificial do mercado de imóveis.

No entanto, em função das características do mercado financeiro altamente globalizado, os efeitos da crise nos Estados Unidos logo se fizeram sentir em outras regiões do planeta, como a Europa, a América Latina, a Ásia e África. Tendo iniciado apenas na esfera financeira, logo as conseqüências da crise vieram também para o chamado setor real, com efeitos sobre a produção de bens e serviços, o nível de emprego, o ritmo de consumo, a dinâmica do comércio internacional (exportações e importações) e sobre a capacidade fiscal dos Estados. Em resumo, a recessão surgiu não apenas como uma ameaça, mas também como uma realidade a ser enfrentada de forma urgente.

A situação dos países integrantes do chamado BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) foi menos influenciada, em razão de características específicas dos mesmos. Sistema financeiro menos desbalanceado do que o norte-americano e o europeu, fôlego para o desenvolvimento de uma saída dirigida para seus próprios mercados internos (em razão de um mercado consumidor muito populoso) e um incremento nas relações comerciais no esquema “sul-sul”, menos dependente das trocas com os países mais afetados pela crise.

Assim, enquanto os países como o Brasil e outros conseguiam já se recuperar em 2009, os Estados Unidos e a Europa permanecem em recessão mais longa, com “crescimento negativo” do PIB (eufemismo delicado do “economês” para descrever a recessão) para 2009 e 2010. Nos países centrais, as políticas adotadas pelos governos foram no sentido de “salvar” o efeito de quebradeira generalizada do sistema financeiro, por meio de alocação de recursos públicos nas instituições bancárias e de crédito, além de oferecer uma política de isenções e incentivos para as grandes empresas continuarem suas atividades produtivas. Apesar de tais medidas começarem a surtir efeito na América do Norte, a situação do outro lado do Atlântico Norte é bastante mais complexa.

O primeiro aspecto a considerar é o próprio desenho institucional em marcha, o da construção da União Européia. Apesar dos avanços obtidos em termos da unificação monetária da zona do euro, da consolidação do Banco Central Europeu (BCE), da efetivação da Comissão Européia e do próprio Parlamento Europeu, o fato é que o processo unificatório ainda está em marcha. A UE é composta de países, com a sua própria institucionalidade social, política e econômica, os quais contam com seus próprios Estados – poderes executivo, legislativo e judiciário. Têm seus próprios orçamentos votados em cada Nação e exercem um conjunto de políticas públicas em seus respectivos espaços – por exemplo, a política de impostos. E nessas condições, a urgência de adoção de medidas centralizadas e impostas a um conjunto tão diverso é muito mais difícil de se obter.

Outro aspecto relevante a se considerar é o da correlação de forças políticas existente hoje no chamado Velho Continente. Observou-se no passado recente, em diversas eleições a conformação de maiorias políticas de caráter bastante conservador, com os casos emblemáticos de Berlusconi na Itália, de Sarkozy na França, de Merkel na Alemanha, entre outros. A exemplo dos responsáveis pela política econômica nos Estados Unidos, esses governos também foram forçados a abandonar, logo no início da crise, o discurso liberal mais radical. A presença do Estado foi solicitada, na forma de alocação de recursos da UE e de cada orçamento nacional em particular, sempre para socorrer instituições financeiras e oferecer incentivos às empresas.

Mas nem mesmo assim as medidas foram efetivas para afastar os chamados “riscos de contaminação”. As ações especulativas nos mercados financeiros se concentraram em ações nos elos mais frágeis da UE. Assim, encontraram no caso da Espanha, da Irlanda e, logo em seguida, no da Grécia, um conjunto de espaços para proliferar a bolsa de apostas do próximo país a quebrar. A situação de recessão e desemprego está perdurando mais tempo na região européia e o nível de insatisfação do movimento sindical e da sociedade civil organizada é bastante elevado.

A postura e as propostas que saem de Bruxelas e dos governos nacionais não contribuem para a formulação de uma agenda positiva, que tenha como foco de preocupação também os aspectos sociais da crise atual. Pelo contrário, voltam à cena as antigas propostas do FMI, que pareciam ter sido esquecidas com a retomada das políticas públicas de caráter keynesiano e desenvolvimentista. A receita continua sendo a de obtenção de superávit primário e de aprofundamento dos cortes orçamentários nos setores que interessam à maioria da população, a exemplo de saúde, previdência, educação, transportes, auxílio desemprego. E permanece o estímulo ao processo de financeirização das economias.

A resistência se dá por meio dos movimentos de protesto e contestação, como ocorre atualmente na França, contra a proposta de reforma do sistema previdenciário. Ou na Alemanha contra as propostas de cortes orçamentários nas áreas sociais, redução do salário-desemprego e demissão de funcionários públicos. Ou na Itália, com os sucessivos escândalos políticos do governo, sempre com propostas impopulares e polêmicas, como as reduções de despesas na área social e as restrições aos trabalhadores imigrantes.

E nesse bojo ganha fôlego uma importante articulação protagonizada por economistas, professores e pesquisadores de vários países da Europa, por meio de um documento que ficou conhecido como “Manifesto dos Economistas Estarrecidos” (1). Iniciado na França, a adesão já ultrapassou os limites da própria Europa. E espalhou-se para o conjunto da sociedade, conseguindo apoio inclusive no movimento sindical. Trata-se de mais uma iniciativa de elevada significação política e mobilizatória. Ou seja, os próprios economistas se posicionando e criticando de forma explícita as opções baseadas na ortodoxia liberal. |Assim, o documento afirma com todas as letras que existem, sim!, alternativas às proposições originárias dos escritórios da tecnocracia de Bruxelas.

A estrutura do documento dos “economistas estarrecidos” são 10 itens, chamados pelos autores de “falsas evidências”, a partir dos quais eles pretendem demonstrar a ineficiência e a injustiça das propostas ortodoxas. E propõem medidas distintas para buscar solucionar a grave crise por que passam aqueles países. São elas:

Falsa evidência n° 1 – “Os mercados financeiros são eficientes”. Não, a crise demonstrou que os mercados não são eficientes, no sentido de apontar os equívocos de determinadas opções e quadros de irracionalidade. Podem ser eficientes na lógica do capital, mas não na lógica do social.

Falsa evidência n° 2 – “Os mercados financeiros são favoráveis ao crescimento econômico”. Não, os mercados financeiros têm uma lógica de atender aos seus próprios interesses, mesmo que isso ocorra às custas dos interesses da maioria da população.

Falsa evidência n° 3 – “Os mercados são bons avaliadores da solvência dos Estados”. Não, os mercados operam com espírito de especulação e buscam ofuscar realidades quando de seu interesse ou provocar crises quando for necessário.

Falsa evidência n° 4 – “A elevação da dívida pública é conseqüência de um aumento nas despesas”. Não, a maior responsável pelo aumento da dívida pública é a política de concessão de isenções fiscais e benefícios tributários para as grandes empresas. Até pouco antes da eclosão da crise, as contas públicas dos Estados membros da UE mostravam um certo controle da questão fiscal.

Falsa evidência n° 5 – “É necessário reduzir as despesas para reduzir a dívida pública”. Não, a solução é justamente manter as políticas de despesas públicas em áreas como saúde, educação, previdência, auxílio desemprego e moradia, ente outras, para garantir que a saída da crise a médio prazo não afete a capacidade dos países nesse tipo de quesito básico.

Falsa evidência n° 6 – “A dívida pública transfere o custo dos excessos atuais para as gerações futuras”. Não, o documento reforça o argumento de que a economia de um país não pode ser tratada como a economia de uma família. O que se faz necessário é alterar a transferência dos beneficiários da crise. Não mais favorecer os especuladores e as grandes empresas, e sim oferecer apoio aos trabalhadores e à maioria da população.

Falsa evidência n° 7 – “É necessário tranqüilizar os mercados financeiros para conseguir financiar a dívida pública”. Não, a crise atual não é apenas resultado da intranqüilidade do mercado financeiro. Pelo contrário, os Bancos Centrais dos países da EU são proibidos de financiarem seus próprios governos. Estes são obrigados a recorrer a bancos privados e pagar taxas de juros exorbitantes por tais operações.

Falsa evidência n° 8 – “A direção atual da União Européia defende o modelo social europeu”. Não, o Manifesto reconhece que existem vários modelos de construção européia. Mas afirma que a hegemonia atual da direção em Bruxelas está ancorada em uma visão excessivamente liberal da dinâmica econômica. Dessa forma, faz-se necessária a reafirmação de outra estratégia de construção européia, com maior foco no social e com medidas que evitem que a liberdade absoluta de fluxo de capitais para os espaços exteriores à EU continue a provocar as atuais conseqüências negativas da crise.

Falsa evidência n° 9 – “O euro é um escudo protetor contra crise”. Não, infelizmente aquilo que deveria atuar como instrumento de proteção não se comportou de tal maneira. Apesar da união monetária, o comportamento dos países europeus é muito díspar, de forma que cada um deles acaba adotando uma estratégia para o enfrentamento da crise. Apenas a existência da moeda unitária não é suficiente. O caminho passa por uma maior centralização na adoção de medidas comuns e no estabelecimento de um sistema de compensações das trocas comerciais entre os países.

Falsa evidência n° 10 – “A crise grega possibilitou finalmente avançar rumo a um governo econômico e a uma verdadeira solidariedade européia”. Não, a crise grega apenas serviu como alerta para a necessidade de medidas contra a ampliação da crise. No entanto, as ações propostas pela Comissão Européia não reforçaram as medidas de solidariedade na direção daquele País. Pelo contrário, as exigências impostas ao governo grego foram sempre no sentido de redução dos gastos públicos de caráter social e sem perspectivas de recuperação no médio e longo prazos.

Em resumo, o que se observa é uma saudável iniciativa de crítica aos modelos atualmente vigentes nas decisões tomadas pela Comissão Européia, mas combinado com um movimento de tornar mais acessível à maioria da população o debate de importantes temas econômicos. Decifrar o economês e aproximar os não-economistas desses assuntos é uma tarefa urgente, pois nada é mais carregado de conteúdo político do que as decisões assim chamadas de “técnicas” pelos responsáveis pelas políticas econômicas da maioria dos países do mundo. Sim, pois quanto mais a maioria da população se mantiver alheia a esse tipo de discussão, tanto mais fácil será perpetuar a política econômica dirigida a beneficiar a minoria.

fonte:http://www.atterres.org/?q=node/11

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Futuro nuclear segundo Fidel Castro.




O ex-presidente cubano Fidel Castro pediu no inicio desse mês, ao governante dos Estados Unidos, Barack Obama, para evitar a guerra nuclear “apocalíptica” que desatará caso ordene um ataque ao Irã, segundo artigo no qual disse dirigir-se ao chefe de Estado dos EUA “pela primeira vez na vida”.
“Nesta ocasião, me dirijo pela primeira vez na vida ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama: o senhor deve saber que em suas mãos está oferecer à humanidade a única possibilidade real de paz. Só em uma ocasião o senhor poderá fazer uso de suas prerrogativas ao dar a ordem de atirar”, escreve.
Em seu artigo, Fidel diz que “todos em seu país, inclusive seus piores adversários de esquerda ou de direita, com segurança o agradecerão, e também o povo dos Estados Unidos, que não é em absoluto culpado pela situação criada”.
O ex-presidente cubano diz compreender que não se pode esperar uma resposta rápida de Obama, mas pede para que pense bem e consulte seus especialistas, aliados e inclusive adversários internacionais. “Não me interessam honras ou glórias. Faça! O mundo poderá se libertar realmente das armas nucleares e também das convencionais”, acrescenta.
Tensão
Em seu artigo, Fidel Castro volta a falar do risco de uma guerra nuclear causada pela tensão com a Coreia do Norte depois do “estranho fato” do afundamento da embarcação sul-coreana “Cheonan” e também pelo conflito com o Irã e seu programa nuclear.
Segundo Fidel, se Obama der a ordem de cumprir a resolução do Conselho de Segurança da ONU para o registro de navios mercantes iranianos, “estará decretando o naufrágio de todos os navios de guerra norte-americanos” na região porque Teerã “declarou que disparará 100 foguetes contra cada um dos navios dos EUA e Israel que bloqueiem o Irã”.
Revelações de Fidel feitas durante nova entrevista em Havana ao jornal mexicano La Jornada e reproduzidas pela imprensa oficial, Granma. A entrevista de Fidel durou cerca de cinco horas e apenas parte dela foi reproduzida até agora:
O cubano Fidel Castro afirmou novamente que apenas o presidente Barack Obama, pode evitar uma guerra nuclear.
“Precisamos mobilizar o mundo para convencer Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, a evitar a guerra nuclear. Ele é o único que pode ou não pressionar o botão”.
Fidel disse que dispõe de informações de que há atualmente no mundo países com capacidade de causar destruição nuclear semelhante as sofridas por Hiroshima e Nagasaki, vítimas na 2ª Guerra Mundial, os arsenais existentes podem 'produzir um inverno nuclear capaz de encobrir' o mundo.
“Esta atrocidade pode ocorrer em questão de dias, para ser mais preciso o próximo 9 de setembro, quando expiram os 90 dias do prazo concedido pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas para começar a inspecionar o navio iraniano”.
"Eu não quero estar ausente nestes dias. O mundo está na fase mais interessante e perigosa da sua existência e estou muito comprometido com o que vai acontecer. Tenho coisas para fazer ainda", disse Fidel..

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

“EU NAO QUERO UMA NAÇÃO DE PENSADORES. EU QUERO UMA NAÇÃO DE TRABALHADORES”




Todos servidores públicos e seus dependentes, principalmente os da classe política, deveriam fazer uso do Sistema Publico de Saúde  SUS, ao invés dos convênios de classe, Albert Einstein e Sírio Libanês pago pelos contribuintes. Seus filhos deveriam estudar em escolas publicas, não nas melhores e mais caras particulares do país. Partindo do pressuposto de que tanto a saúde quanto a educação são ótimas, porque fazem uso de recursos diferenciados dos oferecidos à população?

Essa seria uma medida que melhoraria as condições básicas de vida do povo. Se um governante vise seu filho morrer na fila de um Hospital público, ficar com sequelas pelo resto da vida por falta de atendimento, cursando a quinta série sem saber ler e escrever, perder um ano da vida por conta de ensino de péssima qualidade, ou seja, se experimenta-sem as mazelas dos cidadãos medidas concretas seriam tomadas no intuito de sanar definitivamente os problemas. Mas, é mais cômodo usufruir dos benefícios e regalias do cargo público, é fácil criar um sistema de cotas injusto, descriminatório, capacidade não se mensura pela cor da pele. Difícil é adotar políticas públicas que torne o cidadão intelectualmente livre.

Ninguém quer cota, todos são capazes de aprender, só é preciso ter oportunidade, o mínimo é saúde e acesso ao conhecimento.

Uma pessoa com saúde tem força disposição e interesse pra aprende, raciocinar e questionar, conhecer, quem tem conhecimento tem poder, um poder sem limites.

Educar não é alienar, condicionar, ditar verdades, é disponibilizar conhecimento que possibilita que o individuo tenha consciência da sua responsabilidade nas suas escolhas, fazendo as com sabedoria.

Mas o problema é muito mais grave, veja:

John Taylor Gatto

"A escola é uma forma de adoção. Você entrega seu filho a um grupo de estranhos. Você aceita uma promessa implícita de que o estado, através de seus agentes, criara seus filhos melhor do que você, seus vizinhos, seus avôs e suas tradições locais. E que seu filho se tornara melhor se for adotado. Quando o jovem volta pra casa, e poucos querem voltar...Seus pais são uma espécie de estranhos amigáveis, por que não? E nos momentos críticos do crescimento daquela criança, ela esteve ao redor de estranhos. Agora examinemos os estranhos, dos quais eu fazia parte e você fazia também. Independente da nossa boa vontade, independente de nossos talentos individuais ou inteligência. Temos tão pouco tempo a cada dia com cada uma dessas crianças que não podemos saber de informações vitais sobre aquela criança em especial para elaborar uma série de exercícios para ela. O que fazemos é aceitar, e se não aceitarmos seremos despedidos ou chantageados.

Nós aceitamos instruções do Estado, escritas em manuais para fazer isso primeiro, depois isso, depois aquilo... E o jeito de estado checar se você esta seguindo direitinho a dieta são as provas aplicadas periodicamente. Se seus filhos forem mal não significa que eles são maus leitores ou qualquer outra coisa. Significa que eles não foram obedientes as normas do estado. Elas são destacadas para tratamento especial ou são marcadas para ser excluídas de trabalhos responsáveis. São excluídas das universidades que levam a trabalhos responsáveis, de licenças para praticar trabalhos responsáveis. Isso tudo foi planejado. Não evoluiu a partir de um monte de pessoas racionais dizendo PAGAMOS ISSO E ISSO E MAIS ISSO E REPASSAREMOS A PRÓXIMA GERAÇÃO.Isso foi definido em pequenos gabinetes."


"Rockfeller, Carnegie, J P Morgan....essas pessoas viram um tipo diferente de utopia. Eles acharam que essa abundancia material, já que eles haviam abandonado toda a crença num criador e numa vida eterna....essa abundancia material era o maior propósito da vida humana. E para fazer isso, a família teve que ser removida do centro do palco. As crianças tinham que ser processadas, como matéria prima. Essas são as pessoas que forçaram legislações totalmente radicais em relação a qualquer modelo anterior, que, quando propostas aos legisladores certos, foram aprovadas. Eles garantiram que houvesse dinheiro o suficiente para construir esses prédios de tijolos e pedra e sequestrar as crianças de sua comunidade em nome da lei, veja só. Eles não ensinam do modo que as crianças aprendem. Eles não sabem ensinar da maneira em que as crianças aprendem. Não é o que eles querem. Eles querem produzir um produto seguro, previsível e homogêneo. Eles querem classificar as pessoas em categorias ocupacionais de acordo com a demanda, a economia."

"Muitas de nossas limitações, muitas das cordas que nos seguram como marionetes são na verdade invenções de nossas mentes. Não quero dizer que não ha exércitos nem policia e varias maneiras de punir os dissidentes. Mas não ha como punir um numero grande de dissidentes. Não da para fazer isso. É muito caro sequer tentar fazê-lo. A não ser que você consiga colonizar as mentes das crianças para que se tornem SUA PRÓPRIA POLICIA e denunciem outras crianças que saírem da linha.


Jim Marrs, Jornalista

"Acho que é importante entender que os programas educacionais implementados nos EUA vêm da Associação Nacional de Educação. E a ANE foi fundada por J D Rockfeller. E ele expressou os desejos dessa elite governante que queria homogeneizar nosso sistema educacional quando disse EU NAO QUERO UMA NAÇÃO DE PENSADORES. EU QUERO UMA NAÇÃO DE TRABALHADORES. Então eu acho que o sistema educacional não esta apenas forçando as pessoas a aceitar um governo socialista, mas também emburricando o individuo até o ponto em que ele será um bom trabalhador na fábrica ou no Vale do Silício. Ele talvez saiba muito sobre computadores. Mas não terá uma educação clássica que o permitira ter noção de todas as facetas da cultura e da sociedade para poder juntá-las e formar uma opinião inteligente sobre o que realmente esta acontecendo e o que esta nos seus melhores interesses."


George Carlin


"Há uma razão, ha uma razão pra tudo isso, Ha uma razão por que a educação é uma merda. E é a mesma razão pela qual nunca, nunca, nunca será reformada. Nunca vai melhorar. Percam as esperanças. Contentem com o que você tem. Porque os donos deste país não querem isso, Estou falando do donos de verdade. dos DONOS DE VERDADE. A gigante e super rica organização que controla as coisas e faz todas as decisões importantes. Esqueça os políticos. Eles são colocados em seu lugar para lhe dar a idéia deu que você tem liberdade de escolha. Você não tem. Você não tem escolha. Você tem DONOS. você pertence a eles. Eles são donos de tudo. São donos de todas as terras importantes, de todas as corporações, compraram ha muito tempo o Senado, o Congresso, os palácios estaduais, as prefeituras....Eles tem os juízes comendo em suas mãos e são donos de todas as grandes empresas de comunicação para que possam controlar todas as noticias e toda a informação que você recebe. Eles te seguram pelos ovos....Eles gastam bilhões de dólares todo o ano fazendo lobby, fazendo lobby para conseguir o que querem. A gente sabe o que eles querem. Eles querem maia para si e menos para o resto. Ma eu vou dizer a vocês o que eles não querem. Eles não querem uma população de cidadãos capaz de pensamento crítico. Eles não querem pessoas bem informadas e bem educadas capazes com pensamento crítico. Eles não estão interessados nisso. Isso não os ajuda, isso é contra os seus interesses. é isso mesmo. Eles não querem pessoas inteligentes o suficiente para sentar na mesa da cozinha e perceber o quão foram ferrados por um sistema que os chutou do barco 30 anos atrás. Eles não querem isso.

Sabe o que eles querem? TRABALHADORES OBEDIENTES, TRABALHADORES OBEDIENTES , TRABALHADORES OBEDIENTES !!! Pessoas inteligentes o suficiente para lidar com as maquinas e a papelada e burras o suficiente para aceitar pacificamente esses trabalhos cada vez piores, com menores salários e maior carga horária, benefícios reduzidos, fim da hora extra e a pensão que some quando você vai resgatá-la. E agora eles querem a sua aposentadoria. Eles querem o dinheiro de volta. Para dar aos criminosos amigos em Wall Street. E sabe o que? Eles vão conseguir. Eles vão tomar tudo que é seu, mais cedo ou mais tarde. Toda essa merda aqui é deles. É um clubinho e você não é membro. Eu e você não fazemos parte do clubinho. A propósito, é o mesmo clube que costumava te dar palmadas na mão quando te diziam no que acreditar. O dia inteiro te batendo e te dizendo no que acreditar, o que pensar e o que comprar. A mesa ta torta, pessoal. O jogo ta armado. E ninguém percebe. Ninguém se importa. Pessoas honestas e trabalhadoras. Colarinho branco, azul ....não importa acorda camisa que você veste. Pessoas honestas e trabalhadoras. Pessoas de condição modesta que continuam a eleger esses canalhas milionários que não dão a mínima pra ninguém. Eles não se importam com você, de maneira alguma. Sabe? E ninguém percebe ninguém se importa. E é com isso que os donos contam. Com o fato de que os americanos continuarão tristemente ignorantes quanto a enorme rola azul, vermelha e branca que esta sendo enfiada no seu cu todo o dia. Os donos deste país sabem da verdade. É chamada de O SONHO AMERICANO. Porque você tem que estar dormindo para acreditar.

NOSSA PERCEPÇÃO DA REALIDADE É MANIPULADA E CONTROLADA. COMO RATOS DE LABORATÓRIO, FOMOS CONDICIONADOS A PERCEBE O MUNDO DE TAL MANEIRA QUE NAO ATRAPALHEMOS NOSSOS SENHORES. CHEGOUA HORA DE ACORDAR !!!!!!!!

Michael Badraspik

"hitler por acaso foi eleito na segunda e começou a jogar as pessoas em fornos na sexta? NÃO. Foi um processo gradual. A primeira coisa que Hitler fez foi escrever artigos em jornais. Tudo que dava errado era culpa dos judeus. Foram eles que causaram todos esses problemas. Os judeus escreveram sues próprios artigos dizendo EU DISCORDO. Dai os judeus tiveram que usar a estrela de Davi. PARA QUE POSSAMOS IDENTIFICA-LO. Por acaso disseram NÃO!! É UMA VIOLAÇÃO DA MINHA PRIVACIDADE!! E NAO TENHO QUE SER IDENTIFICADO. Não. Os judeus decidiram BEM, É UM SÍMBOLO RELIGIOSO. NÓS AMAMOS A DEUS. DEVERIAMOS NOS ORGULHAR DE USAR A ESTRELA DE DAVI. Eventualmente, os jornalistas foram e quebraram todas as janelas em todo estabelecimento judeu. Num final de semana. Aquele sábado a noite ficou conhecido com KRISTALLNACHT, noite dos cristais. Por acaso os judeus se impuseram e disseram PAREM COM ISSO, VOCES ESTAO VIOLANDO A MINHA PROPRIEDADE...NAO PODEM FAZER ISSO!! Não. NOSSA, NÃO QUEREMOS IRRITAR AINDA MAIS OS ALEMÃES. NÃO OS IRRITE, ELES TEM ARMAS. De repente, os alemães estão colocando-os em vagões de trens para gado. AONDE VOCES PENSAM QUE VAO? PASSEAR? Para onde vocês acham que eles estão levando vocês? Agora vocês todos nus e morrendo de frio na fila para os fornos para ser executados. Será que agora é o momento de levantar as mãos e dizer SABE DE UMA COISA, EU DISCORDO DE TUDO ISSO. BUM....você esta MORTO!!!!!!!!!! Tarde demais para reclamar. Vocês deveriam ter reclamado no começo. Quando vocês pelo menos tinha uma chance. E quão ruim as coisas tem que ficar antes que VOCE faça algo? Eles vão ter que tomar tudo o que é seu? Será que eles tem que legalizar tudo o que você faz? Será que eles vão ter que jogar vocês em caminhões para vocês dizerem PERA AI, EU NAO ACHO QUE ISSO É UMA BOA IDÉIA!! Quando é que vocês vão começar a resistir?? E dizer NÃO, EU NAO VOU OBEDECER. PONTO FINAL. Mais cedo ou mais tarde vocês terão que se impor. Não importa se ninguém mais o fizer. Isso é o que se chama

LIBERDADE.!!!"

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

CRUZADAS E LUTERO




Recentemente, dois filmes ficaram em evidência – por sinal foram muito bem feitos: Refiro-me a “Cruzadas” e “Lutero”. A espiritualidade achou conveniente que juntemos estes dois assuntos e façamos um apanhado dos últimos mil anos de História, para tentar entender o pano de fundo em torno do legado do Mestre Jesus, observando a perspectiva da fé católica e da fé protestante, e compreendermos o porquê de nos dias atuais as coisas estarem na forma que estão.
Quem assistiu ao filme “Cruzadas”, perceberá um conflito entre duas culturas: a européia e a turca mesclada da cultura árabe.
Jerusalém sempre foi uma cidade muito importante para as religiões judaicas, depois para a religião cristã e mais recentemente, para a muçulmana.
Por volta do ano 900 d.C., ou seja, há 1.100 anos, enquanto os árabes dominavam Jerusalém, as famílias européias, os reis europeus, o próprio Papa, os prelados do Vaticano podiam, livremente, dirigirem-se para lá, sem qualquer problema. Porém, quando os turcos sarracenos a dominaram, eles passaram a cobrar uma espécie de pedágio aos visitantes e peregrinos em viagem.
Nos últimos séculos há um hábito religioso entre os muçulmanos, de ir ao menos uma vez por ano (aqueles que têm posses), à cidade sagrada de Meca. Nesse tempo existia também o hábito entre os europeus ricos, mas também existiam caravanas de peregrinos, que iam visitar a Jerusalém, uma vez por ano. Como os turcos sarracenos dominaram Jerusalém e seus caminhos, os europeus que para lá se dirigiam, foram obrigados a pagar pedágio.Foi por volta do século XI, que surgiu a chamada organização dos Templários – ou Cruzadas –, foi uma organização de homens europeus, que, com a melhor das intenções visavam proteger os caminhos que levam a Jerusalém, dando segurança aos peregrinos europeus que para lá se dirigiam.
As primeiras Cruzadas – capitaneadas pelo Vaticano, em consórcio com alguns dos reis da Europa – conseguiram tomar Jerusalém do domínio turco-otomano. Lá se estabeleceu um rei europeu chamado Balduíno – cuja descendência, durante algum tempo, também se tornavam monarcas. Mas durante todo o tempo do reinado europeu, o rei turco Saladino, a contra parte de história, tentou reconquistar Jerusalém.
A partir destas guerras entre turcos e europeus, envolvendo árabes e outras etnias, uma espécie de “tragicomédia” foi sendo encenada, por uma disputa entre as forças das culturas religiosas católicas e muçulmanas e isso desgastou por demais a Igreja Católica.
A Igreja Católica passa a “vender da própria alma”, passando a desfigurar cada vez mais o legado do Cristo, contrariando os seus ensinamentos. Visavam conseguir recursos financeiros a fim de financiar exércitos – que se dirigiam para Jerusalém –, para construir catedrais e para organizar, dentro do aspecto “mundano” da vida, as forças católicas para dominação e a Igreja foi se desfigurando cada vez mais.
Por isso, dos séculos XII ao XVI, homens e mulheres começaram a assumir posturas que confrontavam esta “desfiguração” que a Igreja estava promovendo em torno do legado do Cristo. Assim, Wilhelm Ockham, John Wycliff, Jan Huss, foram exemplos de homens que ao longo desses séculos, foram dando início a uma espécie de “movimento de rebeldia” contra o clero e a cúria romana, por estarem desfigurando por completo a mensagem do Cristo.
Assim, chegamos ao século XVI, o momento em que Lutero surgiu é muito bem retratado no filme Lutero. Era um momento em que a Igreja Católica utilizava-se de diversos expedientes para conseguir dinheiro. Foi quando o famoso Livro das Taxas da Sagrada Chancelaria Apostólica fez mais sucesso. Era um livro criado por padres da Igreja, onde estavam descritos todos os pecados que um ser humano poderia cometer. Ao lado do pecado, o preço da indulgência, que o pecador deveria pagar, para, em comprando a indulgência, provavelmente mostrá-la a São Pedro, quando morresse, para poder entrar no céu. Esse era considerado o livro mais importante da Igreja. Ela vendia indulgência para tudo.
Para nós, os ditos homens e mulheres modernos do século XXI, isso é algo tragicômico, mas para quem viveu no início do século XVI, não o era. Porém, naquele tempo, era algo bastante natural. Era uma crença terrivelmente posta na figura do demônio. Ou comprava a indulgência ou o demônio dominaria o indivíduo e/ou sua família, e eles jamais entrariam no reino dos céus – todos iriam para o “inferno”, permanecendo para sempre… Esta foi a época da História em que o demônio mais ganhou feições, foi a época em que o inferno foi mais aclamado, para amedrontar as pessoas, com a intenção maior de dominação psicológica.
Foi exatamente contra esse “estado de coisas” que o destino envolveu este homem genial chamado Lutero. Ele desaguou uma tensão acumulada ao longo dos séculos, uma espécie de revolta, de rebeldia contra aquele estado de coisas, dentro da Igreja Católica, que seria a Casa Mater que administraria a mensagem de Jesus.
Lutero foi formado pelos seus pais. O seu pai era um homem simples, trabalhador, mas tinha muita sensibilidade e era um homem letrado. Repassou tudo isso ao filho. Quando Lutero tinha aproximadamente 16 anos, foi tido como uma espécie de gênio. Ele jamais pretendeu ser padre – não gostava –, era voltado para o estudo acadêmico das principais matérias do tempo em que viveu. Mas, por volta no ano 1505, voltando de uma viagem – o filme retrata este momento muito bem –, desaba uma tempestade algo singular, por onde ele viajava. Raios terríveis caiam perto dele e ele achava que iria morrer. Naquele momento de desespero fez uma promessa a Santana, a qual somente ele sabia – Santana era a santa padroeira de sua família, que era católica. Se ele chegasse vivo na cidade, ele entraria para a ordem católica dos Agostinianos. Por ter escapado, sendo um homem reto na sua conduta e nas suas promessas, ele entra no catolicismo tornando-se monge, sem o talento natural para isso. Ele era alguém com o cérebro brilhante.
Mas vejam os caminhos que o destino às vazes coloca as pessoas: por ser brilhante, foi sendo nomeado dentro da hierarquia católica e foi deslocado para a cidade de Wittenberg, (Alemanha) onde se tornou doutor em teologia, em menos tempo do que qualquer outro teólogo de seu tempo. Naquela época, quando os teólogos queriam discutir um determinado tema, era costume pregá-lo na porta da igreja onde ocorreriam reuniões para discutir teologia. O assunto em questão ficava exposto como forma de convite, para que todos pudessem versar sobre o tema.
Lutero ao ver toda a miséria moral, material, espiritual e emocional que dominava sua região, na Alemanha, começou a indignar-se contra aquele estado de coisas. O grande mérito e lucidez de Lutero é que ele, no século XVI, pensava como hoje qualquer cidadão esclarecido pensa e isso não é fácil. A sua antevisão era tão formidável que ele libertou-se do medo de estar ferindo a Igreja, e com a melhor das intenções, pretendeu reformá-la dentro dela. Ele jamais almejou fundar outra religião.
Ele pregou 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, no dia 31 de outubro de 1517, para serem discutidas, e a partir daí o mundo nunca mais foi o mesmo.
Diante da “provocação” de Lutero, em discutir as questões, sob a ótica do cristianismo, ao tempo dos apóstolos, o papa Leão X, responsável por assinar as indulgências, começa a ameaçá-lo. Mas Lutero era alguém brilhante e todas as pessoas da sua época minimamente tendentes à lucidez e ao tirocínio, ficaram ao seu lado, na confusa discussão em torno da venda de indulgências. Quando ele foi excomungado, a Alemanha estava dividida em reinos, e esses foram se agregando às idéias de Lutero, com algumas exceções.
Na minha ótica pessoal, e ao que parece, também na ótica dos amigos espirituais, Lutero foi muito mais do que um homem religioso. Foi um soldado valoroso, na questão da cidadania. Ele era muito mais um homem com visão acadêmica, do que, necessariamente, um homem “de fé”, embora fosse atormentado pelo “medo do demônio” – já que cogitou estar fazendo algo equivocado. Ele jamais pretendeu ser o “dono da verdade”.
O Grande legado de Lutero:
Primeiro, ele foi o primeiro homem, em um período de 1.500 anos, a dizer, publicamente, que não era necessário haver qualquer intermediário ou sacerdotes, entre o ser humano e o Pai Celestial. Ele retomou ao chamado evangelho de Tomé, chamado também de “Quinto Evangelho”, não muito conhecido (aqui nos referimos a Judas Dídimo Tomé, apóstolo de Jesus, que escreveu em seu evangelho com mensagens recebidas diretamente de Cristo. Seu livro pertence à coleção de evangelhos gnósticos, sendo, portando, diferente dos quatro evangelhos sinópticos e do evangelho de João).
Segundo, Jesus havia dito que seria dado a cada um conforme suas próprias obras, a Igreja transformara o que seriam “obras” em “indulgências”. Sendo assim, não adiantava o indivíduo esforçar-se no bem, ser amoroso ou honesto. A única maneira de não ir para o inferno era comprar a indulgência. A Igreja transformara a mensagem de Jesus em “indulgência”.
O que Lutero poderia dizer aos miseráveis do século XVI que passavam fome tentando juntar dinheiro para a compra de indulgências? Ele disse o óbvio: “basta ter fé em Jesus”. Na impossibilidade de criar algo mais profundo, seguindo uma premissa lógica, Lutero disse: Não passem fome; não vendam seus animais para comprar indulgências; basta ter fé… O discurso dele era político, perante a situação em que estava vivendo. Qual ser humano minimamente lúcido não diria o mesmo se lá estivesse?
No entanto, distorções advindas da imperfeição humana, já começaram a corroer o legado de Lutero, quando ele ainda era vivo. Teólogos puritanos, surgidos depois de Lutero, transformaram a doutrina da justificação pela fé, numa afronta à própria mensagem de Jesus. A mensagem de Jesus era: “A cada um será dado conforme suas obras”.
Terceiro, com sua genialidade reestruturou a língua alemã do seu tempo. Foi o primeiro homem a traduzir a bíblia para o Alemão, a partir da versão vulgata, que Jerônimo, com uma comissão de notáveis, havia compilado no século IV D.C.
Quarto, ele devolveu ao ser humano a capacidade de expressar a cidadania livre. O seu grande legado repousa, além disso, na liberdade religiosa. Hoje, Lutero é tido como “o reformador”, mas nós não aprofundamos a grandeza desse homem e de seu legado. Nem mesmo os segmentos protestantes da atualidade o aplaudem e o homenageiam com as próprias atitudes e exemplos, o seu legado. Nós, Cristãos, 2.000 anos depois, estamos afastados das reais intenções de Cristo, por causa de nossas imperfeições
A Igreja dominou cerca de 1.300 anos, provocando um profundo obscurantismo intelectual. Lutero foi o primeiro homem no ocidente que teve a coragem de romper com essa imposição. Mesmo se pondo em risco, homenageou indivíduos como Jan Russ, John Wycliff, Wilhelm Ockham. Ele reformou o seu tempo e as mentes das pessoas, dando o seu testemunho de liberdade religiosa, livre expressão de cidadania política e mostrou que não é necessário que alguém seja o intermediador entre a alma de um indivíduo e o Pai Celestial.
Em 1546, Lutero se vai para a espiritualidade. O protestantismo já estava formado por diversas igrejas livres e independentes, que tinham como base filosófica o legado de Lutero.
Nesse ponto histórico outras questões surgem. Começaremos a analisar como os aspectos religiosos que interferem nos aspectos políticos que regem as nossas vidas. Analisaremos tais aspectos levando em conta o pano de fundo do século XVII, na Inglaterra e na Escócia.
O rei Carlos I, da Inglaterra, no início do século XVII, era vinculado ao catolicismo e tinha acordos políticos com o Vaticano. No entanto, a reforma protestante, desencadeada por Lutero, na primeira metade do século XVI, já havia se espalhado para além das fronteiras da Alemanha, invadindo todos os países da Europa, demorando um pouco mais a chegar na Inglaterra. Quando chegou, o rei Carlos I começou a perseguir aos protestantes.
Os protestantes, na Inglaterra, seguiam mais a linha de Calvino do que a de Lutero. Calvino era um suíço bem intencionado, um homem de inteligência brilhante. Porém ele introduziu no legado de Lutero alguns aspectos comportamentais aos quais Lutero jamais se referiu. Foi nessa linha “calvinista” que surgiram os protestantes na Inglaterra. Eles se autodenominavam “puritanos” por defenderem o “princípio fundamental da fé puritana”. Esse principio surgiu da necessidade de proteger a liturgia pura.
Como muitos escritos ainda eram produzidos pela Igreja Católica, seus cultos se pareciam com as missas, e eles não queriam nada que lembrasse as questões de indulgências. Dessa forma estavam defendendo a pureza, e a pureza na liturgia dos cultos só poderia ser alcançada, se a pureza da palavra de Deus fosse seguida. Eles passaram a ter como princípio fundamental de sua crença na análise da literalidade das palavras escritas na Bíblia. Essa interpretação literal foi tida como a interpretação “pura” da Bíblia. Mas Deus nunca pediu que se interpretasse a Bíblia de forma literal radical. Os puritanos criaram isso, Lutero nada teve a ver com essa questão.
Os puritanos ingleses eram homens e mulheres extremamente bem intencionados, competentes, cidadãos honrados, eram as melhores famílias, em termos de postura moral. – diz a espiritualidade. Na época em que viveram foram perseguidos pelo Rei Carlos I. Por isso fugiram da Inglaterra em navios – um deles foi o navio May Flower – aportaram nos Estados Unidos da América, em 1620. Aqueles puritanos ingleses, que chegaram aos Estados Unidos fugidos da perseguição do rei Carlos I – que se autodenominava católico, mas que de católico não tinha nada –, povoaram aquele país e foram a pedra angular do surgimento de uma grande nação.
Os Estados Unidos são uma grande potência porque aqueles puritanos do século XVII, que eram competentíssimos, responsáveis e honestos, lá chegaram e não tinham a intenção de tirar de lá produtos para vender na Europa, nem de retornar para seu país de origem. Eles se estabeleceram. E assim, eles marcaram a gritante diferença existente entre o progresso na América do Norte e o progresso que não ocorreu na América do Sul. Para cá, vieram portugueses e espanhóis agindo dentro da ótica das colônias. Visavam apenas retirar os produtos do Brasil para vende-los, visando o enriquecimento das coroa portuguesa e espanhola.
Hoje, sociólogos situam os puritanos como sendo os agentes mais importantes no progresso dos Estados Unidos e explicam o atraso social na América Latina, como sendo uma resultante da ação dos espanhóis e portugueses daquela época. Não que queiramos dizer aqui que puritanos ingleses sejam melhores do que espanhóis e portugueses, a questão está na intenção, no objetivo e na postura daqueles que chegaram na América Latina, apenas para retirar matéria prima para enriquecer a Europa. Não foi essa a postura dos puritanos, com relação aos Estados Unidos da América.
Se os puritanos tivessem aportado no Brasil, ou outros países da América do Sul, a nossa história seria muito diferente, por ele serem extremamente competentes e honestos. Eles se estabeleceram nos Estados Unidos com a intenção de ali criar um novo lar.
A questão protestante movimentou o mundo como um todo: Os Estados Unidos surgiram a partir de uma perseguição dos católicos aos protestantes. Na Inglaterra, surgiu Oliver Cromwell, que depôs o Rei Carlos I e, durante 30 anos, os puritanos dominaram a Inglaterra – houve um progresso fantástico.
Mas ao longo dos anos, eles já não mais queriam somente a liturgia pura, o culto puro, eles passaram também a querer o “governo puro”, uma “vida pura” e a partir de então, estabeleceram os três pressupostos básicos da fé dos puritanos: a predestinação, o chamamento e o talento natural para a pureza.
Os puritanos, a partir do século XVII, passaram a acreditar que formavam um conjunto de homens e mulheres predestinados a atingir a salvação, e consideram que somente eles serão salvos. Esse hábito se iniciou no século XVIII, e mais uma vez, Lutero não teve nada a ver com isso.
Com esse tipo de postura passaram a ser antipatizados pelo resto da humanidade, por se acharem os únicos predestinados à salvação. Os demais irão para o inferno.
O que Lutero tem a ver com esse tipo de visão? O que Jesus tem a ver com esse tipo de visão? Nada.
Jesus até confrontou-se com os puritanos de seu tempo: os Essênios. Eles eram tão puritanos que nem se misturavam com as demais seitas judaicas, nem com os demais seguimentos dos judeus. Quando Jesus entrou em contato com os Essênios, eles disseram: “você não há de ser o Messias, por andar com prostitutas e pecadores”. Ele não foi tido como Messias pelos Essênios. João Batista, que era essênio, quando soube que Jesus estava andando em companhia de a, b, c e d, ele mesmo duvidou, a tal ponto, que enviou alguém para perguntar: “você é mesmo o Messias que eu pensei que era?” Jesus não aplaudia essa questão, talvez por razão óbvia: ele conhecia as imperfeições humanas. Quem de nós é puro?
Mas, os puritanos pretendem que a Bíblia seja pura, que lá, não exista erros. E por isso eles não conseguem explicar como um dos preceitos dos 10 mandamentos é “não matarás”, mas no mesmo livro, o tal deus Jeová, que entregou os 10 preceitos a Moisés, ordena a morte de muitas pessoas.
Ou seja: É deixar de perceber o obvio, e transformar algo que está embebido das imperfeições humanas, em algo perfeito. São sempre as nossas imperfeições que acabam por serem entronizadas como sendo mais importantes do que à vontade do Pai. O Pai nada tem a ver com isso.
O puritanismo deu origem a linhas calvinistas, que, no momento presente, desfiguram por completo o legado de Lutero.
Aqui deixo os amigos espirituais de lado, e dou eu mesmo a minha opinião sobre a questão: Quando Lutero fecundou a reforma no mundo, diversas linhas distintas como os presbiterianos, os batistas, os anglicanos, os calvinistas, enfim, segmentos advindos do protestantismo começam a surgir. Duas dessas linhas são responsáveis pelo maior atentado ao que Lutero fez (na minha opinião). São estas: as linhas pentecostalistas e a calvinistas. O que elas fazem é muito pior do que o que a Igreja fazia na época em que Lutero se revoltou contra a venda de indulgências. Os Pentecostalistas de hoje dizem assim: Quanto mais se paga o dízimo, mais você poderá exigir de Deus. A palavra não é “esperar” é “exigir”. Isso é muito sério. Lutero, por muito menos do que isso brigou com toda a estrutura católica e as igrejas que surgiram a partir de seu legado. As que se dizem protestantes fazem muito pior do que a Igreja Católica fazia no passado. Isso é pior do que vender indulgências, nem papel eles entregam.
A Igreja Pentecostalista está vendendo água benta do Rio Jordão, areia santificada de algum lugar. No passado, a Igreja Católica pegava ossos de macaco para vender como se fossem ossos de Santo Ambrósio. E aquilo virava relíquia religiosa. Reis davam fortunas para terem um osso desse, como talismã, que servia para ir para a guerra. As lascas da cruz de Jesus eram pedaços de madeira tidos como objetos sagradíssimos. Lutero se posicionou contra tudo isso. Hoje, as igrejas pentecostalistas, que se autodenominam protestantes, fazem pior do que o que a igreja católica no passado.
Existem linhas muito sérias no protestantismo, formadas por homens e mulheres que vivem as suas religiões da forma mais bela que podem viver. Mas há também linhas completamente equivocadas. Da mesma forma que o catolicismo tem segmentos belíssimos, e também linhas equivocadas. E o mesmo ocorre com o espiritismo, que tem seguimentos honorabilíssimos e outros equivocados.
A verdade não está nessa ou naquela religião. A questão é que nós, seres humanos, estragamos tudo que abraçamos, mesmo com a melhor das intenções.
Para entendermos um outro aspecto do protestantismo, é necessário perceber que o que Lutero fez terminou influenciando praticamente o mundo inteiro, notadamente o Ocidente.
Nos capítulos XII, XIII e XIV, do Apocalipse, há referências ao fato de que depois que Jesus retornar a Terra terá mil anos de felicidade e que todos viverão em paz. A crença nesse período de paz criou uma cultura chamada “Milenarismo”, que foi abraçada por diversas linhas protestantes.
Nós somos tão engraçados no trato das coisas espirituais e celestiais que realmente damos o atestado da nossa incompetência.
Alguns milenaristas, nos séculos XIV e XV – estes ainda não eram protestantes – e nos séculos XVI, XVII e XVII – já protestantes – foram “apressados”. Em aproximadamente 1.540, por exemplo, na cidade de Munster, na região de Alsácia (localizada parte na a França e parte na Alemanha), os milenaristas chegaram à conclusão de que Jesus chegaria naquele local – Munster –, naquele ano. Como Jesus não chegou, eles desistiram de esperar e resolveram impor os mil anos à força. Armaram-se e invadiram a cidade.
Outros grupos, na República Checa (como hoje a chamamos) e na Alemanha diziam não era nem preciso que Jesus chegasse. Afirmavam que a volta de Jesus era uma coisa figurada e eles mesmos resolveriam a questão, impondo o “milênio” à forca das armas.
O Brasil foi descoberto da forma como foi, devido à crença milenarista de um rei chamado Manoel, o Venturoso.
No livro de Daniel (grande profeta que viveu no cativeiro na Babilônia, 586 a.C. O novo império Babilônico, sob o comando de Nabucodonosor, conquista o reino de Judá levando-o a cativeiro), denominado livro de Daniel, diz que depois do seu tempo surgirão outros impérios. Ele nomeou esses impérios com símbolos de animais. Daniel se referiu ao império que surgiria 300 anos depois, capitaneado por Alexandre Magno. Depois, referiu-se ao império dos Celeus e ao império dos Romanos. Ele também menciona um quinto império, que surgiria na época da “graça” na Terra.
Os milenaristas, logo vincularam esse que seria o “quinto império de graça”, mencionado por Daniel ao chamado “milênio”. Mas ninguém mais desejava esperar a chegada de Jesus, eles queriam criar o milênio por eles mesmos. Então Dom Manoel, o Venturoso e o rei Dom Sebastião de Portugal, acreditavam fortemente na crença do milênio, e que tal milênio seria estabelecido por Portugal. Portugal seria a “grande nação” do mundo – que iria converter nações não cristãs ao cristianismo. Foi com essa crença que a escola de navegação marítima de Portugal foi criada, e foi com esse espírito que os navegadores de Portugal lançaram-se ao mar, para colonizar outras terras e catequizá-las, para torna-las cristãs. Mas o pano de fundo das conquistas, a visão da elite portuguesa era que eles iriam estabelecer o milenarismo.
Isso era tão singularmente importante para os portugueses, que o poeta português Luiz de Camões, que viveu naquele período, em uma das suas obras mais bonitas, Os Lusíadas, diz em determinado trecho:

“Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Porque outro valor mais alto se alevanta.”

Camões dizia que as vitórias de Alexandre Magno e de Trajano, que foi um grande conquistador romano, não representavam nada diante daquele novo valor que se levantava com Portugal. O que os sábios gregos e troianos, ou seja, Homero e Cícero diziam, nos feitos épicos, não tinham importância alguma diante das navegações que Portugal agora fazia. Ou seja, parte do épico português, Os Lusíadas, fala dos feitos do milênio, que seria iniciado por Portugal. Esse era o espírito.
O Brasil foi descoberto através de um processo que nasceu da crença milenarista dos reis portugueses. Observem, com isso, como crenças criadas sobre o legado de Cristo – que pouco têm a ver com o que Jesus disse – terminam influenciando, através do movimento das forças religiosas católicas, protestantes e de outros segmentos modificaram as histórias de muitas nações, que são explicadas através do movimento de tais forças. O que Jesus tem a ver com isso? E o que Lutero tem a ver com isso?
Em resumo: De Lutero, devemos nos recordar que o que ele fez no século XVI, até hoje, tem influenciado o mundo. Pena que o seu legado não foi devidamente entendido, nem sequer entre os segmentos do próprio protestantismo.
Pietro Ubaldo já dizia que nós, cristãos, 2000 anos depois, ainda não levamos Jesus a sério. De fato, ainda não o conseguimos leva-lo a sério, que dirá de levar Lutero a sério.
Porém, a quem interessar possa: nós temos pouco tempo para nos tornarmos cidadãos sérios diante da vida, pois parece que o chamado milênio está chegando. Mas está chegando através de quem tem estatura moral, o próprio Jesus, para nos motivar a construir um novo mundo, uma nova forma de viver na Terra.
Mas não será, no entanto, Deus, ou Jesus, ou Bezerra de Menezes, ou Santo Antonio de Pádua, nem os extraterrestres que farão por nós, que moramos na Terra, o que precisamos fazer por nós mesmos.
Nós não precisamos saber nada do que aqui foi dito, precisamos somente homenagear Jesus, Lutero e outros grandes homens da nossa História, que deram suas vidas e suas sensibilidades, somente com o intuito de dignificar a vida humana. Jamais pretenderam criar religiões.
Que façamos nós a nossa parte, da forma que pudermos, ao longo de nossas vidas.
Jan Val Ellam
Reunião Grupo Atlan –
Natal, 23 de maio de 2005
Transcrição: Luiz Carlos

Fonte: http://www.orbum.org/2010/08/cruzadas-e-lutero/#more-1382

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Copa : otários x espertos




PORQUE NINGUÉM CRITICA O SR RICARDO TEIXEIRA, GENRO DE JOÃO HAVELANGE, O VERDADEIRO PROPRIETÁRIO´´ SENHOR FEUDAL`` DO FUTEBOL BRASILEIRO E MUNDIAL, SÓ UM DETALHE A FIFA ARRECADOU SÓ DE DIREITO DE TV $ 25 BILHÕES,AS VENDAS DE CAMISAS GERAM MAIS DE $600 MILHÕES E SÃO VENDIDAS ANUALMENTE MAIS DE 70 MILHÕES DE UNIDADES DE BOLAS. E QUANTO A QUANTIDADE ENORME DE TVS.

A CBF TEM CONTRATO COM A NIKE, IMBEV E GLOBO E OS VALORES NÃO SÃO DIVULGADOS NEM PRA RECEITA FEDERAL.

SÓ MAIS UM DETALHE : KAKA , MESSI E CRISTIANO RONALDO NÃO JOGARAM NADA E SEMPRE FORAM OS DESTAQUES DA MÍDIA, TODOS GAROTOS PROPAGANDA DE MARCAS FAMOSAS TAL QUAL; GILETTE-NIKE-ADIDAS...

POR ISSO O DITADO POPULAR PEDE ,PRA NÃO DISCUTIR :FUTEBOL,RELIGIÃO E POLÍTICA , POIS ,SE DISCUTIMOS PASSAMOS A VER QUE DE FATO TODOS SOMOS ENGANADOS,DE UMA FORMA OU DE OUTRA.

A FIFA JÁ CONSEGUIU ISENÇÃO TOTAL DE IMPOSTOS POR PARTE DO GOVERNO FEDERAL EM TODAS SUAS OPERAÇÕES NO BRASIL 2014, ENQUANTO O POVO ALIENADO JÁ PAGOU NESTE ANO ATÉ HOJE MAIS DE 600 BILHÕES ,ISSO MESMO 600 BiLHÕES DE REAIS EM TRIBUTOS PRA DAR VIDA MOLE PRO PARASITAS DAS TETAS DO ESTADO ( LEVIATHAN ) BRASILEIRO.

OU SEJA, O POVO PAGA AS CONSTRUÇOES DA INFRA NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DA COPA ,JÁ ACRESCENTADA DO SUPER FATURAMENTO DAS OBRAS POR PARTE DOS POLÍTICOS E EMPREITEIRAS, AÍ A FIFA VEM ARMA SEU CIRCO VENDE SEUS INGRESSOS ,SEU DIREITO DE TRANSMISSÃO, SUAS BUGIGANGAS E LEVA O DINHEIRO EMBORA SEM NENHUM ÔNUS..

DESCULPE O PALAVREADO O POVO ENTRA COM ÂNUS E A FIFA FICA COM BÔNUS

philokiko

http://www.youtube.com/user/philokiko

terça-feira, 29 de junho de 2010

POBRES MORTAIS




DIFÍCIL O HOMEM ATUAL SE LIBERTAR DO SISTEMA, POIS ELE FOI ENGENDRADO A SÉCULOS PARA TER CLASSES DISTINTAS PELO PODER, ATUALMENTE PELAS FACILIDADES TECNOLÓGICAS ESTE PLANO NUNCA ESTEVE TÃO PLANETARIAMENTE ESPALHADO.
O KAPITAL ESTÁ NO COMANDO GLOBAL, TUDO SE FAZ PARA SATISFAZÊ-LO, CUSTE O QUE CUSTAR, NEM PARA QUE PRA ISSO, UM TERÇO DA POPULAÇÃO MUNDIAL MORRA DE FOME, OUTRO UM TERÇO PASSE PRIVAÇÕES E TENHAM CONDIÇÕES MÍNIMAS DE SOBREVIVÊNCIA, TALVEZ 39% DA POPULAÇÃO VIVA EM CONDIÇÕES RAZOAVEIS E 1% DA POPULAÇÃO DESTRUA TODAS AS FORMAS IMAGINAVEIS OS RECURSOS DA TERRA.
GRAÇAS A CONCENTRAÇÃO DE RENDA VIA TRIBUTÁRIA, PELOS IMPOSTOS QUE SÃO EXTORSIVOS E SERVIÇOS QUE NÃO DADOS PELO ESTADO, SEJA VIA MAXIMIZAÇÃO DE LUCROS POR PARTE DAS ESCRAVAGISTAS MULTINACIONAIS OU AINDA ATRÁVES DOS JUROS EXORBITANTES, MANTIDOS PELO GOVERNO PARA A MANUNTENÇÃO DE SUAS DÍVIDAS GERANDO RECEITAS BILONÁRIAS E LUCROS ESTRATOSFÉRICOS PARA O SISTEMA FINANCEIRO.
MAIS DÍFICIL AINDA COM UMA MÍDIA INSTANTÂNEA QUE COMPELE OS CÉREBROS MÍSERO-EGO-PENSADOS EM CONSUMIR CADA VEZ MAIS O QUE MENOS PRECISAM, POIS NÃO TENDO UMA VISÃO EXATA OU PERTO DISSO QUAL É A REAL FUNÇÃO HUMANA NA TERRA, O HOMEM É ENGANADO FACILMENTE COM COMERCIAIS, NOVELAS, NOTICIÁRIOS ETC...
QUE EXPLORAM TODAS AS FRAQUEZAS HUMANAS: VÍCIOS, SEXO, ORGULHO, INVEJA E OUTRAS DISTRAÇÕES DO EGO, QUE IMPEDEM A EVOLUÇÃO EM DIREÇÃO AO EU-COSMO-CONSCIENTE E ASSIM SAINDO DE FATO DA MATRIZ QUE MANIPULA NOSSOS 5 SENTIDOS MORTAIS.

PHILOKIKO
07/01/2001

Fonte: http://www.youtube.com/philokiko

domingo, 27 de junho de 2010

Arroz Transgênico – Entenda o que está em jogo




Dentro de poucos dias o Brasil pode se tornar a cobaia do mundo, ao permitir o plantio e o consumo de arroz transgênico não aprovado em nenhum país. O pedido da empresa alemã Bayer está praticamente pronto para ser votado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio. Tratase do Arroz Liberty Link LL 62, resistente ao herbicida glufosinato de amônio (processo 01200.003386/200379).

Neste caso, até os produtores e a Embrapa Arroz e Feijão estão contra. Parece que só a CTNBio está do lado da Bayer. Como vai se posicionar o governo LULA? Arroz com herbicida – riscos para a saúde A modificação genética torna o arroz resistente ao herbicida de princípio ativo glufosinato de amônio e nome comercial Basta ou Finale (ambos da Bayer). Ou seja, não há nenhum benefício para o consumidor. Pelo contrário. Com a resistência ao agrotóxico, a pulverização se dará sobre toda a lavoura, inclusive sobre o próprio arroz, que não morrerá mas absorverá o veneno, que irá
também para os grãos.


O glufosinto é considerado tóxico para mamíferos e por este motivo será proibido na União Europeia a partir de 2017 por determinação do Parlamento Europeu [1]. Pesquisadores japoneses mostraram que a substância pode dificultar o desenvolvimento e a atividade do cérebro humano, provocando convulsões em roedores e humanos [2].


A Bayer é a empresa que mais vende agrotóxicos no Brasil e sua aposta no arroz transgênico visa ampliar ainda mais esse mercado. A venda casada com o glufosinato reforça a posição do Brasil como principal destino de produtos tóxicos não mais aceitos em outros países [3].


Problemas agronômicos – a posição da Embrapa


Em audiência pública, o pesquisador Flávio Breseghello, da Embrapa Arroz e Feijão, apresentou a posição oficial “autorizada pela presidência”, frisando que a empresa não é contra os trangênicos e nem contra a modificação genética do arroz, mas que neste caso o produto da Bayer “agravará os problemas já existentes”. “Não devemos usar tecnologias que terão validade de poucas safras”, disse Breseghello.


O principal entrave técnico enfrentado pelos produtores de arroz é o controle do arroz vermelho, espécie ancestral do arroz comercial, que compete com a cultura. A preocupação é a constatação de que a planta transgênica inevitavelmente cruzará com sua parente vermelha, dando origem a arroz vermelho transgênico resistente a herbicida. O arroz vermelho pode germinar após mais de anos de dormência no solo. Segundo Breseguello, “a contaminação é irreversível” [4].


Problemas econômicos – a posição dos produtores

Na mesma audiência pública, os representantes dos produtores de arroz também manifestaram sua preocupação. Receiam perder mercado interno e externo caso a variedade seja liberada. “Considerando que não existe consumo corrente nem mercado global para o arroz transgênico, concluímos que a entidade não é favorável nesse momento à liberação”, disse Renato Caiaffo Rocha, em nome dos produtores reunidos na Farsul e na Federarroz e do Instituto Rio Grandense do Arroz – IRGA.

Contaminação inevitável


Mais de 7 mil produtores de arroz processam a Bayer nos Estados Unidos por prejuízos sofridos pela contaminação de suas colheitas pelo arroz Liberty Link. A Justiça estadunidense já determinou o pagamento de mais de 50 milhões de dólares como indenização por danos materiais. A Justiça do estado de Arkansas determinou também indenização por danos morais por entender que houve má fé por parte da empresa [5].


Entre 1999 e 2001 a empresa realizou nos Estados Unidos testes de campo com o arroz modificado, mas não chegou a propor sua liberação comercial. A contaminação só foi descoberta cinco anos após a conclusão dos experimentos, quando o mercado europeu suspendeu as importações do produto. O Japão seguiu o mesmo caminho. Na ocasião, a empresa eximiuse de qualquer responsabilidade pelo ocorrido, alegando tratarse
de “circunstâncias inevitáveis, ato de Deus e negligência dos agricultores” [6].


Recentemente, um repesentante da Bayer no Brasil afirmou que o problema não está na
contaminação, mas sim no fato de ela não estar prevista e regulamentada pelas leis de
biossegurança. Para André Abreu, enquanto permanecer um regime de intolerância (sic) em relação à contaminação, problemas como esse continuarão acontecendo [7].


Falta transparência


Muitos questionamentos foram apresentados por pesquisadores, produtores e representantes da sociedade civil na audiência publica realizada em março de 2009, mas até hoje nenhum deles foi respondido. Não se sabe, por exemplo, o que a empresa pretende fazer para evitar a contaminação do arroz comum nem qual o nível previsto de resíduo de agrotóxico no grão. A CTNBio nega acesso aos dados apresentados pela empresa. Essa falta de transparência é prejudicial à participação da sociedade, à biossegurança e à saúde pública.


Falta isenção – a avaliação pela CTNBio

Até hoje a CTNBio aprovou todos os pedidos a ela submetidos. Nunca recusou nenhum. Suas decisões ocorrem por maioria simples, isto é, 14 de 27 votos. Cabe destacar que é grande a controvérsia técnica dentro da própria Comissão. O melhor exemplo está no fato de que até hoje todas as aprovações tiveram votos contrários fundamentados dos ministérios da Saúde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Agrário. Anvisa e Ibama apresentaram formalmente recursos técnicos contra as liberações dos milhos LL da Bayer, MON810 da Monsanto e Bt 11 da Syngenta, mas o governo Lula delegou à CTNBio a decisão. Pior para todos nós que teremos produtos contendo esses milhos transgênicos, apesar da discordância da ANVISA e do IBAMA.

A falta de imparcialidade começa pelo próprio presidente da Comissão, que ao assumir o cargo no início deste ano já se declarou favorável à liberação do arroz transgênico [8], contra a rotulagem dos produtos [9] e a favor da exclusão do monitoramento dos impactos à saúde dos transgênicos. Antes de ser presidente, para defender a soja transgênica da Monsanto, Edílson Paiva, falando do glifosato usado na soja da Monsanto, chegou a dizer que os “humanos poderiam até beber e não morrer
porque não temos a via metabólica das plantas” [10].


Alterações genéticas imprevistas


O método de transformação utilizado para o arroz Liberty Link foi o da aceleração de partículas (biolística). A biolística é um método de transferência direta que consiste em projetar transgenes dentro das células alvo através de partículas de ouro ou tungstênio cobertos com moléculas de DNA recombinante (transgenes) aceleradas por um sistema de propulsão por hélio.

Neste método, há total descontrole do local da inserção dos transgenes nas células e genoma vegetal. O transgene pode tanto ser inserido no genoma nuclear quanto no DNA de organelas. Além disso, o número de transgenes também não é controlado. Várias partículas podem integrarse no genoma e em diferentes lugares. Finalmente, a integridade do transgene (sua sequência genética) também pode
não ser mantida, ou seja, o transgene pode integrarse no genoma de forma truncada, com deleções ou ainda com inserções de fragmentos de DNA da própria célula entre os transgenes.

No caso do arroz LL, nenhum estudo cientificamente robusto foi apresentado pela proponente a fim de confirmar o que foi inserido. Isto significa que sequer temos a certeza do que foi inserido, muito menos das conseqüências. Durante a audiência pública, um participante mencionou a possibilidade de ter ocorrido deleção de
um nucleotídio (Adenina) no local de regulação da expressão da proteína que confere a tolerância ao herbicida glufosinato de amônio. Posteriormente à audiência, a empresa admitiu a deleção, afirmando haver a alteração de um aminoácido na proteína. Essa alteração significa que a proteína produzida pelo arroz difere daquela produzida naturalmente pela bactéria Streptomyces, doadora do gene.

No entanto, nenhum estudo foi apresentado a fim de investigar possíveis efeitos adversos na saúde humana e meio ambiente resultantes dessa alteração não intencional.
Ou seja, além da incerteza do que foi realmente inserido, ignorase uma alteração genética detectada, mas não esperada. A proteína não perdeu a sua função de conferir a tolerância ao herbicida, mas pode gerar riscos não analisados.


A decisão está nas mãos do governo Lula


A Lei de Biossegurança (Lei 11.105/05) criou uma instância acima da CTNBio, o Conselho Nacional de Biossegurança, formado por 11 ministros e presidido pela Ministra Dilma Rousseff. O CNBS tem o poder de dar a última palavra em relação a uma liberação comercial de transgênico no país. Até o momento, a atuação do CNBS foi lamentável: deu razão à CTNBio e autorizou a liberação dos três milhos transgênicos que a ANVISA e o IBAMA recomendaram que não fossem autorizados.


A liberação do arroz LL tem também implicações econômicas bem graves, estando as principais entidades representativas dos produtores contra (Farsul, Federarroz e Instituto Rio Grandense do Arroz – IRGA). Como vai se posicionar o governo Lula: a favor da Bayer ou do Brasil?


Assinam este documento:

AAO Associação de Agricultura Orgânica ABRANDH – Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos
Humanos ACAN
Associação Catarinense de Nutrição AEPAC
Associação Estadual dos Pequenos Agricultores Catarinenses – ANA Articulação Nacional de Agroecologia ANAC

Associação Nacional de Agricultura Camponesa ANPA
Associação Nacional dos Pequenos
Agricultores – APATO
Alternativas para a Pequena Agricultura no Tocantins – APPA Associação Paranaense de Pequenos Agricultores ARPA
Associação Riograndense de Pequenos Agricultores
ASPTA
Agricultura Familiar e Agroecologia – CESE Coordenadoria Ecumêmica de Serviços Cooperfumos
Cooperativa Mista de Fumicultores do Brasil Ltda. CONESANGO
Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional de Goiás CONSEASC
Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional de Santa Catarina – CPCPR
Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Paraná Ltda. – CPCRS
Cooperativa Mista de Comercialização Camponesa do Rio Grande do Sul Ltda. CPT
Comissão Pastoral da Terra FASE
Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional FBSSAN
Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional – FEAB Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil FESANSMS
Fórum Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Mato Grosso
do Sul – FNECDC Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor FOSANES
Fórum de Segurança Alimentar e Nutricional do Espírito Santo IDEC
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – Instituto Cultural Padre Josimo MAB
Movimento dos Atingidos por Barragens MMC
Movimento de Mulheres Camponesas MPA
Movimento dos Pequenos
Agricultores MST
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – Plataforma Dhesca
Relatoria de Direito Humano à Terra, Território e Alimentação PJR
Pastoral da Juventude Rural RECIDGO
Rede de Educação Cidadã de Goiás Terra de Direitos Via Campesiana.

Notas:
[1] EU Environment Ministers Keep Bans on Transgenic Maize. Environment News Service (ENS). http://
www.ensnewswire.
com/ens/mar2009/2009030201.
asp
[2] Nobuko Matsumura, Chizuko Takeuchi, Keiichi Hishikawa,Tomoko Fujii, Toshio Nakaki. Glufosinate
ammonium induces convulsion through Nmethyldaspartate
receptors in mice. Neuroscience Letters 304
(2001) 123125.
[3] Brasil é o principal destino de agrotóxico banido no exterior. O Estado de São Paulo, 30 de maio de
2010.
[4] A transcrição da audiência pública realizada em 18 de março de 2009 está disponível na página eletrônica
da CTNBio, no endereço http://www.ctnbio.gov.br/index.php/content/view/13289.html
[5] Bayer ordered to pay farmer $1 million is tab for modified rice. Arkansas DemocratGazette,
10/03/2010. http://www.allbusiness.com/legal/tortsdamages/
140796811.
html ;
Bayer to pay $1.5 mln in 2nd lawsuit over GM rice, Reuters, 05 de fevereiro de 2010.
http://www.reuters.com/article/idUSLDE61421W20100205 e GM rice litigation: defense. Delta Farm Press,
04 de maio de 2010. http://deltafarmpress.com/rice/gmricelitigationdefense0504/
[6] Firm Blames Farmers, 'Act of God' for Rice Contamination. Washington Post, 22 de novembro de 2006.
http://www.washingtonpost.com/wpdyn/
content/article/2006/11/21/AR2006112101265.html
[7] Mesa redonda sobre arroz transgênico. CTNBio, 19 de maio de 2010, Brasília.
[8] Novo presidente da CTNBio defende arroz transgênico. O Estado de São Paulo, 11 de fevereiro de 2010.
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,novopresidentedactnbiodefendearroztransgenico ,
509722,0.htm
[9] Novo presidente da CTNBio se diz contra rotular transgênico. Folha de São Paulo, 11 de fevereiro de
2010. http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u692636.shtml
[10] Avanço da soja transgênica amplia uso de glifosato. Valor Econômico, 24 de abril de 2007.

Fonte: http://port.pravda.ru/science/30013-5/